sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

Em defesa de um amigo

Recebi por email uma denúncia, publicada em um blog auto-intitulado Diário do Educador, com acusações raivosas contra meu amigo Francisco Potyguara Tomaz Filho.
Não sei quem é o acusador, se é uma pessoa comprometida com mudanças sociais, pode ser em igual nível de militância que o Xico, mas dificilmente será mais devotado às causas de nossa gente. Por esse comprometimento Xico foi vítima de um complô na FUNAI, levado a diante, não por aqueles amantes da causa indígena, mas justamente pelos traidores desta causa.
Pode ser alguém que não se conforma com a vontade do povo do Pará que elegeu outro governo, no mínimo, por incompetência do anterior e levou um grande número de "militantes" a perder seus DAS's.
É possível que seja um patife, um oportunista, alguém em busca de alguns minutos de fama.
Em quase 40 anos de atividade política no Pará, vi se construírem e desconstruírem as biografias da maioria dos nossos atuais líderes políticos, bem como acompanhei a formação dos principais partidos em atuação. Ninguém, nem nenhum partido tem autoridade moral que permita jogar pedra em quem quer que seja, todos tem, pelo menos, telhado de vidro.
É por isso que estou repetindo um mantra: precisamos de uma reforma política que acabe com estes políticos e com a atual estrutura partidária brasileira, eles não atendem mais ao novo Brasil que insiste em nascer.
Precisamos de uma outra constituinte: livre, autônoma e soberana.
Viva o Xico !!!


P.S: Leia abaixo a dígna resposta que o Chico Potyguara postou no Diário desEducador:


Senhor Professor Luiz Cavalcante.
Permita-me tomar o seu precioso tempo, para prestar alguns esclarecimentos a respeito do seu post “Governo Jatene nomeia mais um Ficha Suja”.
O senhor não tem idéia do efeito devastador que o seu post produziu sobre a minha pessoa. Não creio que a intenção fosse exatamente esta, mas conseguiu produzir um efeito da minha absoluta desmoralização. Parabéns.
Quem lhe informou sobre os fatos relativos à minha demissão, omitiu importantes informações, ou por má fé pura e simples ou por desonestidade.
Elogio em boca própria é vitupério ou cabotinismo, e eu não vou perder meu tempo com isto, mas procure saber sobre a minha conduta em mais de duas décadas prestadas ao indigenismo, e veja o que dizem os mais importantes nomes da antropologia e da causa indígena ao meu respeito. Incluso nomes notoriamente petistas como por exemplo o atual presidente da FUNAI, o paraense Márcio Meira. Veja se na boca de algum deles existe alguma coisa que desabone a minha conduta, principalmente, que eu tenha me apropriado de algum recurso público ou sucumbido à corrupção. Lanço este desafio ao senhor e a todos os que estão aproveitando a carona e achincalhando o meu nome.
O senhor não sabe, e não tem a obrigação de saber, mas a FUNAI, é um órgão absolutamente atípico e não se compara a nada do serviço público.
Como o senhor acha que deveria agir, alguém que tem responsabilidade e respeito ao ser humano, chegar em uma lancha com 50 índios, de madrugada, em uma cidadezinha que não tem banco, qualquer comércio legalizado ou lojas registradas junto a receita estadual, e estes índios estarem com fome, exaustos depois de dois dias de viagem no rio? Será que caberia pagar do próprio bolso as despesas de alimentação, por vezes remédios, combustíveis e outras mais? Pois eu fiz isto. Centenas de vezes. E o faria novamente, quantas vezes mais fosse necessário. Não importa o que digam a respeito da minha honra Estes fatos aconteceram e centenas destes índios, que passaram corriqueiramente por esta situação, ainda estão vivos e podem dizer se eu minto.
Por tantas destas situações e outras mais diversas, eu tirei dinheiro do meu bolso e arquei com as responsabilidades que cabiam a mim, e assim é até agora nos dias atuais, se funcionários da FUNAI, não agirem assim, pode ser a diferença entre a vida e a morte, de seres humanos iguaiszinhos a nós.
Por isto, meu caro Professor, a FUNAI foi minha devedora inúmeras e diversas vezes. Cheguei a acumular crédito de mais de dez mil, para receber junto a FUNAI. Os funcionários que atuam no órgão podem atestar se eu estou falando a verdade ou não. Pergunte para o Administrador Regional da FUNAI, Juscelino Arlindo do Carmo Bessa, se eu estou mentindo.
Em 1997, no final do ano, havia um crédito à meu favor de mais de sete mil reais, o administrador da época, emitiu um suprimento de fundos em meu favor e me autorizou a emitir uma nota fictícia de combustíveis no valor de três mil e duzentos reais, para ressarcir, parte dos meus créditos. Assim foi feito e continua sendo feito até hoje, senão a FUNAI para.
Passados três anos, funcionários da FUNAI, que tinham posicionamentos antagônicos aos meus, foram em Capitão Poço e casualmente souberam desta história, e produziram documentos para me denunciar. Foi aberta uma sindicância e posteriormente um PAD, e eu, não neguei o que havia feito. Fui réu confesso, porque mentir, não é uma prática usual no meu perfil.
Durante o processo disciplinar, ninguém depôs contra mim, a única acusação foi o documento original e o meu próprio depoimento admitindo os fatos. A comissão pediu apenas uma advertência para mim, e justificou que os fatos eram normais e corriqueiros na FUNAI. Procure saber dos autos e veja se eu minto.
Pois bem, fui demitido, e quando saiu no Diário Oficial em 2008, eu estava em Brasília, em Reunião com o doutor Márcio Meira, presidente da FUNAI, que havia me convocado para uma missão muito espinhosa para resolver umas broncas pesadíssimas, junto aos índios isolados Suruwará em Lábrea no estado do Amazonas. Segundo o doutor Márcio Meira, precisava de um indigenista de ponta para segurar e resolver a bronca, e este indigenista era eu.
Naquele momento, em que eu soube da minha demissão, o Márcio também se mostrou surpreso e falou que não havia assinado minha demissão, como de fato pude comprovar posteriormente, pois foi assinada por um seu substituto, que não me conhecia.
Eu recebi centenas de e-mail’s de solidariedade e críticas à minha demissão, inclussive do ex-presidente da FUNAI, Mércio Gomes que trabalhou comigo na Frente de Atração Awá-Guajá, e sabe do meu verdadeiro caráter. Obtive apoio do Brasil todo e até de países estrangeiros. Para um “ladrão desqualificado” como tentam me caracterizar, um “Ficha Suja”, é estranho obter tanto reconhecimento.
Nada disto foi capaz de superar o impacto, que eu senti com a minha demissão, nem as homenagens que eu recebi durante o Fórum Social Mundial, em Belém, no início de 2009. Procure saber se isto é verdade ou se eu estou mentindo.
Professor, o poeta Ferreira Gullar, escreveu certa vez que: “Um homem se humilha se castram seus sonhos…. Seu sonho é sua Vida…. e a Vida é o Trabalho…. E sem o seu Trabalho…. Um homem não tem Honra…. e sem a sua Honra…. Se morre e se mata… Não dá prá ser feliz….
Tenho certeza de que esse juízo de valor que o senhor fez ao meu respeito, não corresponde a realidade, mas eu me curvo serenamente e aceito que o senhor pense da maneira que o senhor quiser, a democracia pressupõe o contraditório, mas o senhor está muito longe da verdade.
Os julgamentos precipitados ou de má fé, sem procurar saber dos meus esclarecimentos, só fazem aumentar a minha dor de ser tachado de ladrão, quando eu tenho a absoluta certeza de que não agi assim.
Eu estive a frente de centenas de missões de combates a madeireiros, invasores de terra indígena, garimpeiros, traficantes de drogas, todo tipo de delitos. Nunca fui acusado de prevaricar ou facilitar a vida desta gente, pelo contrário, recebi acusações de excessos da própria Policia Federal. Estive em Roraima na área Yanomamy, e comandei a apreensão de centenas de diamantes, no meio da selva amazônica, acredite, nem um mísero destes diamantes, foram parar nos meus bolsos, como era prática comum de funcionários e até de militares e policiais que agiam nestas operações. Eu nunca permiti isto e nem me vali de benefícios próprios. Procure saber se isto é verdade ou se eu minto.
Minha última missão pela FUNAI, eu comandei uma operação que apreendeu 57 mil metros cúbicos de madeira no nordeste paraense, mais de 10 carretas, 06 tratores de grande porte e outros veículos menores. Se eu liberasse uma só carreta ou alguns metros cúbicos de madeira, minha conta bancária amanheceria recheada. Isto nunca aconteceu, pelo contrário à única conta que eu possuo, está bloqueada no Banco do Brasil, por dívidas que eu tenho acumulado ao longo dos anos. 15 dias atrás eu fui despejado de maneira humilhante de um apartamento em que morava, por não conseguir pagar os aluguéis. Para um “ladrão dos cofres públicos” é uma bela trajetória.
Eu compreendo que as razões políticas façam as pessoas terem julgamentos precipitados, mas falsear a verdade, não pode ser argumento honesto. Um tal de PPS das Origens, diz um monte de besteiras e inverdades ao meu respeito. Ou esta pessoa é débil mental, não me conhece ou é mau caráter mesmo.
Dizer que eu sou anti-petista feroz. É hilário. Eu votei no Lula em todas as eleições que ele participou, inclusive contra a orientação do meu partido. Pergunte a quem me conhece de fato, se isto não é verdade. Eu estive em campos opostos ao PT, na minha militância estudantil e também partidária, mas nada que interditasse o reconhecimento das coisas importantes e sérias que o PT realizou e certamente irá realizar.
Eu entrei no PPS em 1999, portanto é uma deslavada mentira que eu tivesse descumprido a orientação do partido em 1996, contra o Edmilson, que aliás é meu amigo particular e de quem eu tenho a honra de haver votado as duas vezes em que foi eleito e feito campanha abertamente ao seu favor. Edmilson, quando era deputado fez uma saudação pública em meu favor em uma sessão especial na assembléia legislativa, então não procedem as acusações deste idiota, que se diz PPS das Origens.
Dizer que eu apoiei Ramiro Bentes e Duciomar, só um demente pode afirmar isto, quem me conhece sabe que nunca fiz isto, pergunte ao João Raimundo se isto é verdade.
Arremata dizendo que eu apoiei Jatene em 2002, contra a orientação partidária. Loucura total. Eu assessorava o Hildegardo e fiz parte da coordenação de sua campanha. Quanta idiotice.
Eu conheço o Jordy, desde os cinco anos de idade, já que temos a mesma idade, e por uma coincidência, eu fui vizinho de uma tia dele na infância. Estivemos juntos no MR-8, nunca fui do PCB, e nos aproximamos novamente a partir de 1999, quando entrei no PPS. Eu estou cada vez mais convencido de que Jordy é um político excepcional e diferenciado, e não preciso puxar seu saco para me credenciar junto a ele. Nos conhecemos o suficiente para convergir em muitas coisas e divergir em outras tantas.
Gostaria de uma vez por todas declarar que esta é a verdadeira história destes fatos, e que se pensasse melhor quando se quisesse achincalhar as honras das pessoas. Foi um sofrimento violento para mim, mas foi muito pior para minha família.
Não pedi para ninguém que se evitasse a minha exoneração, eu não me presto a este tipo de coisa. Se a decisão do Vice-Governador for esta, eu me curvo serenamente e aceito como normal, já que não me apego a cargos, e vou tocar minha vida para frente.
Tenha sucesso e paz nas suas atividades.
Um abraço.
Francisco Potiguara Tomaz Filho


3 comentários:

  1. Total solidariedade ao amigo e camarada Chico> Homem integro!
    OdeO

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  2. A historia esfrega na cara de todos as suas verdades solares.

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  3. Todos os fatos acontecem, naturalmente, dentro de um contexto, e a verdade é sempre descrita pela ótica do observador, considerando-se o ponto de seu observatório. O tal “educador” e a “menina”, supostos fichas limpas, que estão muito incomodados com a nomeação do Chico Potyguara para o gabinete do Vice-Governador do Pará são invisíveis de meu observatório, portanto só me resta fazer suposição sobre eles.
    Eles nunca sujaram a ficha deles como eu e o Chico, pois não precisaram sujar as mãos nem os pés para lutar contra a ditadura brasileira, não devem ter ficha suja no antigo DOPS como nós temos, não têm registros no SNI e muito menos possuem amigos que assaltaram bancos para fazer finanças para lutar contra a ditadura como nós. Eles não têm amigos que sequestraram embaixadores para libertar presos políticos como nos temos. Eles não têm a ficha suja com esta história de sangue e lágrimas.
    Eu conheci o Chico Potyguara ainda garoto no meio desta batalha contra a ditadura, ele ainda tinha a ficha limpa, igual a do “educador do blog” e sua parceira, porém acabou sujando-a no decorrer da luta pela causa operária. Depois que nós juntamente com o povo brasileiro derrubamos a ditadura e conquistamos a democracia, o Chico foi trabalhar na FUNAI e lá abraçou a causa indígena com a mesma disposição com que lutara contra a opressão da ditadura. O episódio funesto acontecido na FUNAI, ao qual o “educador ficha limpa” se refere foi a aplicação incorreta de uma verba para atender a uma necessidade urgente de uma tribo indígena, o processo correu à revelia e marcado por perseguição política.
    Eu quero aqui desafiar o “educador ficha limpa” a sujar suas mãos limpas para ler e divulgar os Autos do processo, o valor envolvido, etc. Eu cobro isso porque conheço e confio no Chico Potyguara, acredito que será muito útil no gabinete do Vice-Governador. Não sei se serei atendido pelo “educador”, pois não conheço a sua ficha, nem tampouco a sua honra, porém me parece que é um sujeito perfeito, e como diz a canção, “quem se acha perfeito arranjou um jeito de ser insosso, sem carne e sem osso”, ou seja, carece de coragem.

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